Bombeiros Industriais – Atividades e Dificuldades
Ao adentrarmos as empresas que possuem bombeiros industriais, é comum observarmos que, a equipe está posicionada nas cercanias e, por vezes, não tem força política dentro da organização.
Analisando o porquê desta falta de consideração, verificamos a existência de posicionamentos divergentes sobre as atividades destes profissionais.
Contando com a experiência adquirida no comando de uma das maiores equipes de bombeiros industriais de nosso país, gostaria de abordar sobre a atividade destas profissionais.
Este material não tem a intenção de esgotar plenamente o assunto, mas certamente auxiliará na obtenção de uma visão geral sobre a atuação dos bombeiros industriais.
Missão
As empresas tem como finalidade a obtenção de resultados financeiros, para tanto a continuidade de seu processo produtivo ou de atendimento ao público é fundamental.
A partir disso, podemos dizer que, a principal missão da equipe de bombeiros industriais é coibir a ocorrência de incêndios e demais sinistros.
Portanto, a equipe de bombeiros deve, necessariamente, agir de forma proativa.
É lógico que, outras ações devem ser tomadas, mas o foco principal deverá ser a eliminação dos sinistros, sejam estes de quaisquer porte.
Política de atuação
Em consonância com a missão designada, devemos estabelecer uma política de atuação de equipe com os seguintes princípios básicos:
- Agir proativamente, evitando a ocorrência de incêndios e demais sinistros.
- Garantir o desempenho adequado dos equipamentos e sistemas de combate a incêndio.
- Intervir em sinistros.
A atuação da equipe deve atender aos princípios acima, obedecendo a escala de prioridades como fôra escrita. Tanto é fato que, quando bem assimilado, é comum vermos os profissionais dizendo: – “Só apagamos fogo, quando nossas ações prioritárias não foram bem executadas e tudo deu errado”.
Tarefas
Para a tender a política definida, torna-se necessário estabelecer um plano de ação e dentro deste definir o que fazer, como fazer e quando fazer.
Muitas vezes, observamos que pessoas determinam a execução de tarefas, porém, não havendo algo sistêmico provavelmente a qualidade do serviço será insatisfatória.
O plano de ação definido, deverá englobar as seguintes tarefas:
- Treinamento aos empregados da companhia – A finalidade é levar informações, em especial sobre prevenção de sinistros. Além de treinamentos especiais, ocorrem três programas básicos: Brigada de Incêndio (40 horas), Reciclagem de Brigadistas (4 horas) e Integração para Empregados (1 hora).
- Análise e liberação de serviços – Objetiva analisar e determinar medidas preventivas quando da realização de atividades consideradas perigosas, entre elas destacam-se os serviços: a quente (solda, aquecimento, etc.), em áreas confinadas, sobre telhados, etc.
- Inspeção em áreas de risco – Nas empresas sempre existem áreas onde a potencialidade do sinistro é agravada. Este tipo de inspeção tem por finalidade, manter estas áreas em uma condição menos favorável a ocorrência de sinistros. Como exemplo podemos citar: os depósitos, as áreas onde há manuseio de inflamáveis, as áreas não usuais de produção (porões e sótãos), locais onde o processo industrial propicia a ocorrência de sinistros, etc.
- Testes em sistemas fixos de combate a incêndios – Sem cuidados, fatalmente, os sistemas fixos ficarão inoperantes. Para manter a condição de operacionalidade, é fundamental a realização e testes periódicos no sistema, só assim teremos certeza de sua atuação no caso de sinistros. Como exemplo de sistemas podemos considerar: sistema de hidrantes, sistema de bombas, chuveiros automáticos (sprinklers), sistemas de CO2, sistemas baseados em gases sintéticos (FM 100, FM 200, Inergen, etc.).
- Inspeção das proteções passivas – Tendo como finalidade garantir a integridade das proteções passivas (paredes corta fogo, portas corta fogo, barreiras isolantes, saídas de fumaça, etc.), consistindo na inspeção visual destas.
- Controle das sinalizações de segurança – Diferente do que muitos pensam, a sinalização de segurança consiste além da sinalização de extintores e hidrantes, das sinalizações sobre controle do fumo, controle de chamas, resguardo de vida, etc., cabendo a equipe de bombeiros industriais sua manutenção adequada.
- Manutenção dos equipamentos de combate a incêndios – Contido neste item encontra-se a manutenção: dos extintores de incêndio, das mangueiras de incêndio, dos materiais hidráulicos (esguichos, proporcionadores, etc.) e demais equipamentos utilizados no combate a incêndios, quer sejam móveis ou estejam fixados em local apropriado.
- Atendimento a sinistros – Como já citado, a ocorrência de sinistro na indústria é indesejada, mesmo assim, a equipe de bombeiros industriais deve estar apta a enfrentar qualquer situação emergência.
Planejamento estratégico
Quando se fala em estratégia, estamos tratando de aspectos relativos à qualidade na execução das tarefas e uma das formas de apresentar o que deve ser visto ou realizado, está na elaboração de lista de verificação (check list) específica para cada item.
Este processo associado a um bom programa de treinamento e a existência de um cronograma de ação, formam a base de sustentação que garante a realização das tarefas em data oportuna e de forma correta.
Portanto, são fundamentais para a perfeita execução das tarefas, um planejamento que contenha: o que fazer, como fazer, quando fazer e quem vai fazer, além das ações corretivas a serem tomadas em caso de anomalias.
Treinamento aos bombeiros industriais
Para que tudo funcione corretamente, é fundamental a equipe participe continuamente de treinamentos, em quatro níveis:
- Treinamento técnico – Proporciona informações sobre: instrumentos/equipamentos utilizados (oxímetros, explosimentros, etc.), conceitos sobre incêndio, sistemas de combate a incêndio, forma de atuação nas inspeções e testes, atuação na análise e procedimentos para liberação de serviços, etc.
- Treinamento prático – Ministrado in loco, informa sobre: os pontos vulneráveis da empresa, localização dos equipamentos, localização das válvulas de manobra, melhores rotas de caminhamento, localização das áreas/equipamentos perigosos, etc.
- Treinamento prático de ação em sinistro – Composto do combate efetivo ao incêndio e da atuação em outras ocorrências. É o treinamento usual aplicado aos bombeiros industriais.
- Treinamento físico – Capacita o bombeiro industrial a atuar em ações emergências. Deve ser ministrado por um profissional da área de educação física e visar a tenacidade muscular e o condicionamento aeróbico, apesar dos bombeiros industriais pedirem para ser ministrado exercícios para escultura muscular.
Todos estes treinamentos devem ser previamente definidos, quer em seu conteúdo quer na frequência, através de programa próprio.
Avaliação
De nada adianta termos um bom programa de atuação se não temos um acompanhamento adequado. A avaliação destas ações deve ser realizada em 4 níveis:
- Avaliação do profissional – deve ser feita no mínimo anualmente e ser utilizado os critérios padronizados para toda empresa.
- Avaliação do serviço realizado – abrange a qualidade do serviço executado, devendo ser realizada através da comparação entre o executado e o padronizado.
- Avaliação da equipe de bombeiros – composta de uma junção dos valores, deve abranger: quantidade de tarefas executadas, qualidade destas tarefas, quantidade dos treinamentos realizados e absenteísmo observado.
- Avaliação de performance – apesar de tantos dados objetivos, temos neste item uma junção de fatores. O primeiro objetivo onde analisamos o número de ocorrências atendidas, e o segundo subjetivo onde se verifica a condição da empresa como um todo, como ocorre nas inspeções das empresas seguradoras.
Dificuldades
A maior dificuldade encontrada na implantação desta sistemática está correlacionada aos próprios bombeiros industriais, pois muitos deles estão acostumados a ficar aquartelados, esperando as ocorrências para tomarem uma ação reativa, enquanto que necessitamos reverter este quadro e agir de forma proativa.
Outro fator está associado ao próprio público interno, em especial nos níveis de supervisão, pois havendo a detecção de risco no local e emissão de relatório, estes pensam que o bombeiro está contra ele, e não consegue entender que o bombeiro é um aliado e que está trabalhando para manter a continuidade produtiva.
Mas, com um pouco de conversa, onde se explica o que quer, a missão a ser desenvolvida, a política de atuação e mais importante porque destas ações, as resistências diminuem e o grupo aliado aumenta.
Terceirização
Hoje, muitas empresas atuam com equipes terceirizadas, o que pode representar um grande risco, uma vez que, normalmente os bombeiros industriais terceirizados, não estão adequadamente preparados e nem motivados.
O conteúdo do treinamento ministrado pelas companhias terceirizados, normalmente, considera apenas o combate a incêndios, desprezando ações proativas e no final se tem um profissional que não atua preventivamente.
Além disso, estes profissionais não tem conhecimento da empresa, não conhece seus pontos vulneráveis, não estão perfeitamente integrados a vida da empresa e não são motivados para o trabalho preventivo.
Aparentemente estas deficiências não são problema, porém, as plantas ficam mais suscetíveis a ocorrência de sinistros, podendo representar perca de produção e de lucros.
Concluindo
Cada equipe é única, tem suas dificuldades e facilidades, tem seus méritos e deméritos, portanto, todas as ações de organização devem ser adequadas a equipe e aos problemas do momento.
O planejamento deve evoluir continuamente, sendo sanados os erros e readequado o que não funcionou a contento.
Porém, é possível ter uma equipe de bombeiros industriais que atue preventivamente, que não permita a vulnerabilidade da produção, basta para isso ter vontade política e estruturar a ação da equipe.