Análise de risco I (2018)

Quem me acompanha sabe, sempre falo da importância de elaborar análises de risco e, acima de tudo, elaborá-las de forma preventiva, ou seja, antes que qualquer inconveniente.

Como, a meu ver, temos a obrigação de trocar as experiências conquistadas com o tempo, às vezes para me manter vivo, uso a máxima de René Descartes (filosofo francês), “penso, logo existo” e acabo por fazer uma reflexão sobre o que conquistei e o que escrevi.

Em uma destas ocasiões de reflexão notei que falo muito sobre análise de risco, até citei algumas ferramentas, mas, pouco ou quase nada mostrei sobre o como elaborar uma análise.

Pensando em apresentar o que aprendi e coloquei em prática, nos próximos seis artigos pretendo mostrar o como desenvolver estas análises. Minha intenção é expô-las pelo enfoque prático, evitando se estender sobre toda a teoria que há por trás destas ferramentas.

As ferramentas de análise de risco

Particularmente considero uma boa análise de risco aquela que identificar o risco em si, mostra onde e quais ações mitigadoras devem ser implantadas e/ou priorizadas.

Falo de priorização de medidas, pois, como sabemos, o ideal seria eliminar todos os riscos, porém, nem sempre se conta com os recursos necessários e/ou suficientes, sejam estes técnicos ou financeiros. Portanto, há a necessidade de priorização as ações de controle de riscos.

Como citei há um bom tempo em um dos artigos, existem várias ferramentas de análise de risco.

Cada metodologia de analise (ferramenta) funciona melhor para dada situação, porém, mesmo se aplicarmos a ferramenta não mais adequada, obteremos resultados interessantes.

Se analisarmos historicamente veremos que as metodologias de análise de riso são derivadas de estudos para mitigação de vulnerabilidade de sistemas produtivos e operações militares, tendo principiados no período da segunda guerra mundial.

Dentre as várias ferramentas temos:

  • GUT – na realidade é metodologia de priorização de tomada de decisão, porém, também é possível utilizá-la como ferramenta primária de análise de risco.
  • APR (Análise preliminar de risco) – nome comum para muitos, porém, a maioria das APR`s que tenho visto estão incompletas. Não sendo analisados aspectos de frequência e consequência, e por conseguinte sendo impossível definir o chamado nível de risco.
  • HazOp (hazard and operability studies) – o estudo de perigo e operabilidade é uma ferramenta muito aplicada na indústria química e afins e conduz a obtenção de níveis de risco e sua aceitabilidade.
  • FMEA (failure modes, effects analysis) – a metodologia de análise do tipo e efeito de falha objetiva identificar potenciais falhas em um produto ou processo e suas consequências. Normalmente se utiliza em novos projetos.

Além das metodologias descritas existem outras, tais como: What IF (e, se), Árvore de Ishikawa, Arvore de causa-efeito etc. Estas metodologias, apesar de interessantes, são mais difíceis de aplicar com foco preventivo, assim sendo, me absterei em aprofundar sobre seu desenvolvimento.

O que todas as ferramentas têm em comum

Quando se fala em análise aprofundada de riscos existem dois conceitos primordiais:

  1. Para a análise de risco ser confiável, é necessária a elaboração por uma equipe evitando a visão unilateral. Tem que ser uma decisão colegiada.
  2. A boa análise de risco não é elaborada em poucos minutos, demora um bom tempo, porém, é a análise vale por longo período.

Isto posto, vamos ao que há de comum na aplicação das várias ferramentas.

Planejamento prévio – é uma das fases mais importantes, devendo responder: o que será analisado? Como será analisado? Quando será analisado? Onde será realizado (local para as pessoas elaborarem a análise)? Por que há a necessidade da análise?

Equipe de trabalho – análises de risco são elaboradas por equipes multifuncionais. É importante que a equipe tenha algum conhecimento sobre a atividade a ser estudada. Toda contribuição deve ser considerada, mesmo as aparentemente improcedentes ou descabidas. Certamente todos já ouviram falar de situações em que a “pior ideia” foi a melhor solução.

Equalização de conhecimento da metodologia – antes do início da análise é importante que a equipe saiba, o porquê está lá reunida, qual a atividade a ser analisada e como funciona a metodologia.

Definição do moderador (do chato) – quando pessoas se reúnem em uma sala, é fácil o grupo perder o foco e o tempo ser utilizado com outros assuntos. Para minimizar este comportamento é fundamental que a equipe defina quem será a pessoa que ocupará o posto de moderador. Este terá como função manter o grupo no foco (pode ser qualquer pessoa e o rodízio entre os integrantes é bem-vindo).

Descrição da atividade, operação ou instalação analisada – é tudo o que está sujeito a análise. Esta descrição deve ser minuciosa. Se for o caso, deve ser dividida em atividade e subatividades. Por vezes, é importante incluir as atividades ou instalações próximas ou aquelas que podem afetá-las. Há casos que um potencial risco advém de área próxima e não da atividade em si.

Caracterização da localização da atividade ou instalação – a área da instalação e/ou operação e sua circunvizinhança devem estar descritos e ser de conhecimento de todos, uma vez que, há a possibilidade de o meio ambiente alterar a condição de risco da atividade ou instalação. Por exemplo, se uma atividade ou instalação estiver ao ar livre e o dia estiver úmido, fatalmente haverá alteração do nível de risco.

Cronograma de trabalho – datas, horários e locais das reuniões devem ser programados. Para ter um rendimento satisfatório, as reuniões não podem ocorrer por períodos contínuos superiores a 3 horas de trabalho.