Brigada de incêndio (2019)

Ao pegar o elevador do prédio onde moro, notei que havia uma folha (tipo um panfleto) contendo informações sobre o treinamento de brigada de incêndio que iria ocorrer proximamente, em um sábado no período da manhã, horário que a maioria da população não está trabalhando.

Um andar acima, entrou duas mulheres, aparentemente, mãe e filha. Comentei com ambas sobre o treinamento. Neste momento, a mais velha, provavelmente a mãe se mostrou interessada, enquanto que a mais jovem, aparentando uns 17 anos, me perguntou: É obrigatório? Tenho que participar?

Logicamente, tentei explicar a importância, fazendo uma síntese de oito andares. Falei que pela lei (instrução técnica) tem que ser treinado, no mínimo, um morador por andar. Citei ainda que é importante saber o como agir em caso de um incêndio, mas sinceramente tenho dúvida se obtive sucesso.

Este papo rápido de elevador me deixou meio encafifado. Entrei em casa me questionando o porquê de as pessoas dão pouca importância ao tema incêndio, seja quanto ao combate ou quanto a prevenção.

Me auto indaguei. Por que mesmo tendo ocorrido um incêndio no prédio ao lado do condomínio, gerando a maior balburdia, até com a presença da imprensa televisiva, as pessoas não se sensibilizam para o tema incêndio? Esta “pulguinha” ficou na minha mente.

Na mesma semana, olhando a um programa televisivo, me deparei com uma matéria sobre os aquecedores a gás, onde era enfatizada a necessidade de boa instalação e manutenção. Equipamento cada vez mais comum em nosso país e que, além de propiciar risco de incêndio, propicia também risco de intoxicação.

Voltando a matéria televisiva, notei que aparentemente os dutos de exaustão dos aquecedores mostrados ou inexistiam ou estavam danificados, propiciando que gases de combustão se propagassem pelo ambiente interno do que me aparentou ser um apartamento, ou seja, um equipamento tão importante e que requer atenção técnica deixado ao desleixo.

Abrindo um parêntese, cabe lembra que, usualmente quando se fala de gases de exaustão, acaba se fixando em Monóxido ou bióxido de Carbono (CO ou CO2, respectivamente), porém, o resultado de qualquer queima apresenta outros gases igualmente prejudicais a saúde, só que estes agem de forma diversa dos primeiros no organismo, como por exemplo: os gases sulfídricos (SOX) e óxidos nitrosos (NOX).

Desta forma podemos dizer que, um incêndio, mesmo que em seu início, não acarretam problemas somente gerados pelo fogo (percas materiais), mas também, os gases gerados pela queima de qualquer material afetam diretamente a saúde das pessoas que se encontram tanto na área sinistrada, como nas áreas vizinhas. E se estes gases foram gerados por materiais derivados de petróleo, seu potencial de toxicidade é ainda maior.

Voltando a inquietação inicial: por que as pessoas dão pouca importância aos treinamentos e aos aspectos de proteção contra incêndios?

Sabidamente não tenho como responder de forma cientifica esta questão, uma vez que minha formação é engenharia, mas posso, neste espaço, expor minhas observações sobre esta constatação.

Dentro destas observações, considero que este desinteresse se por dois motivos:

  1. O que chamo de síndrome do super-homem – apesar dos inúmeros casos que nos cercam, muitas pessoas acham que nada o afeta, nem o fogo, nem gases tóxicos ou asfixiantes, ou de forma simplista, é o mesmo que o super-homem do filme onde alguém o ameaça com um revolver e ele estufa o peito, o outro atira e, nada acontece. Mas, por vezes o atirador pode ter uma bala com criptonita e aí, certamente, apesar de ser o super-homem, irá sucumbir.

Está certo que nosso país é abençoado, não sofre uma série de desastres naturais, mas, mesmo assim precisamos zelar do nosso redor e saber como agir de forma adequada em caso de sinistros.

  1. A falta de orientação das pessoas desde o berço – em muitos filmes, americanos em especial, vemos crianças da mais tenra idade participando de simulados de combate a incêndios, com evacuação de áreas e outros quitais. Isto é mais comum em locais onde há a possibilidade de desastres naturais, mas por conseguinte acaba por contribuir com as questões relativas a incêndios e emergências de forma geral. No Brasil, por sua vez, esta prática não é disseminada.

Assim sendo, pela minha análise concluo que ambas as causas estão atreladas a cultura e educação da população sobre um tema sensível. Poderia até apontas outros fatos, mas seria menos contundentes e acabaria por desaguar no âmbito da cultura do povo.

Desta forma cabe a pergunta: o que fazer para reverter este quadro?

Acredito que para alterar este quadro é possível, a curto prazo, ter duas medidas práticas.

  1. Como profissionais de segurança, onde estão inclusos a maioria dos leitores, disseminar esta cultura, não falando como algo legal e obrigatório, mas sim tratando este tema como algo importante, e esta divulgação, a meu ver, deve ser dado pelas diversas formas que temos ao dispor, seja por uma análise de incêndio na TV e discussão com um vizinho, até palestra na escola dos filhos e, no meio do caminho, passando pela cobrança de ações dos prestadores de serviço (escola dos filhos, clubes, condomínios, etc.)
  2. A segunda é mais ampla. As escolas de nossos filhos poder contar com palestras do corpo de bombeiros. Pode parecer estranho, mas na cidade onde moro, o Corpo de Bombeiros possui uma unidade educativa (um caminhão com bombeiros treinados) que, quando solicitado, se deslocam aos mais diversos locais fazendo palestras, algumas dedicadas exclusivamente a crianças.

Concluindo, há a necessidade de mudar a cultura de prevenção contra incêndios e a ação de todos, por menor que seja, é bem-vinda.