Pode-se dizer que sempre é tempo de aprender, basta para isto conversar e ser observador.
Desta vez o aprendizado veio de uma conversa ocorrida a mais de 1000 km de São Paulo e tudo começou com uma conversa.
Estávamos falando de aquecimento global e dos problemas hídricos que vem ocorrendo pelo mundo, um papo amigável em um momento de relaxamento depois de um dia duro de trabalho, eis que repentinamente, um dos participantes falou de um fato ocorrido em seu condomínio e que aqui relato.
Tudo começou quando a prefeitura de uma cidade muito prospera do interior de São Paulo teve um problema com a capitação de água do manancial, rio, que abastece a cidade, face a esta escassez de água houve a necessidade de racionar o fornecimento, estabelecendo-se uma forma de rodízio, como aliás, é normal em situações similares.
No inicio até a situação estava controlada, até que, por qualquer descuido, um condomínio com 100 unidades ficou sem água. De pronto ocorreram as queixas, quiseram a cabeça do sindico, como se ele tivesse fechado o registro, então se marcou uma assembleia e nesta vejo a sugestão maravilhosa que era bombear a reserva de incêndio, fazendo com que esta fosse utilizada como água de consumo. Por fim, esta medida acabou sendo aprovada em assembleia, mesmo com o apontamento pelo síndico de que esta medida é ilegal.
Com isso vem os questionamentos:
De que vale possuir uma rede de hidrantes se não há água?
Será que vale a pena colocar uma população de 400/500 pessoas em risco por uma medida ilegal?
Será que não haveria outra forma de mitigar a falta de água?
Será que se todos ajudassem, economizando, não seria possível ter um consumo racional mesmo com o racionamento, sem comprometer desta forma a reserva de incêndio.
As respostas a estes questionamentos eu não possuo, porém, creio que algo melhor que utilizar a reserva de incêndio poderia ser feito.
A conversa prosseguiu. Quando fui para o quarto, ainda estava irrequieto e me perguntando como as pessoas podem chegar a este ponto de fazer algo ilegal e que pode pôr em risco a vida e o patrimônio de todos.
Neste caminhar e questionar, me lembrei do que aconteceu aonde moro.
Em uma inspeção de rotina, constatou-se que todas as empatações (conexões das mangueiras) e esguichos, que são de bronze, tinham sido subtraídos, com isso, mesmo havendo água na reserva de incêndio, não haveria como utilizá-la, uma vez que, os dispositivos e equipamentos estavam danificados ou faltando.
Para elucidar um questionamento que deve estar na cabeça de muitos, vale lembrar que, os dois condomínios são de classe média, assim sendo, as justificativas de que os furtos se deram para atender a necessidades básicas, não se aplica.
Mas, eu vejo uma similaridade entre os dois casos, que é o descaso com o tema prevenção de incêndios, onde a estes casos citados, poderíamos agrupar a presença ínfima nos treinamentos de brigada de incêndio, ao mantenimento na forma aberta das portas de emergência, o uso nos apartamentos de instalações elétricas inadequadas, e por aí vai.
Em uma visão própria, observo que, nos condomínios, assim como em outros locais, estamos nos colocando deliberadamente ao risco. A pergunta: será que isto é bom e adequado?
Para a minha percepção esta não é uma boa medida, porém, em um mundo de mudança e diversidade de opinião, que sou eu para dizer que sou dono da verdade.
Acredito que que, a minimização desta exposição deliberada ao risco de incêndio ou da inexistência de sistemas de combate na condição operacional, só se dá com informação da importância e a motivação para agir de forma correta.
Normalmente quando se faz uma abordagem de informação, quase que de imediato, alguém fala que então deveria ser uma ação do estado, incluindo o tema prevenção contra incêndio na grade curricular. Certamente este seria o melhor dos mundos, mas será que a sociedade civil não pode fazer nada?
Acredito eu que a possibilidade existe. No município que eu moro, por exemplo, o Corpo de Bombeiros Militar tem uma equipe de educação, que leva a informação a todos de forma gratuita. Será que não seria interessante convidá-los para uma aula?
Além disso, na sociedade como um todo, há uma grande quantidade de técnicos de segurança, bombeiros civis, engenheiros de segurança e outras pessoas com proficiência sobre o assunto, será que não seria possível estes profissionais dedicar um pouco de seu tempo para uma palestra voluntária?
Enquanto escrevo lembro de um bombeiro civil que trabalhava comigo e que um dia me abordou perguntando se podia passar informações no condomínio onde morava, estava meio tímido, eu disse que como ele tinha conhecimento poderia e ele fez com um resultado muito bom, até porque fazia parte do próprio condomínio, era amigo de uma boa parte daquela população.
Para concluir, creio que já passou da hora de o tema proteção ou prevenção de incêndio, sair somente do noticiário sobre as catástrofes e ir para as páginas dos noticiosos que nunca aparecem, mas quando se observa no detalhe, vê-se que é a página que salva vidas.