Incêndio e manutenção (2025)

Dois fatos correlatos me chamaram nos dias que antecederam a elaboração deste artigo.

O primeiro: um incêndio de grandes proporções em um parque de diversões infantil na região sudeste. O relatado pela impressa, dava conta que o agente gerador do sinistro foi o esquecimento, por parte de um trabalhador, de uma máquina de solda de metal ligada sobre uma das camas elásticas. (https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/incendio-de-grandes-proporcoes-atinge-parque-de-diversoes-em-sao-paulo)

O segundo: acabei sabendo através de um contato. Explico, estava no escritório o telefone toca e perguntam se eu tinha condição de ir à região centro oeste para uma consultoria. Segundo meu interlocutor, lá ocorrera um pequeno incêndio em um equipamento de grandes dimensões. Ainda, segundo relato de meu interlocutor, o incêndio foi causado por um funcionário da manutenção desenvolver atividade de solda na parte debaixo abaixo do equipamento, sem, contudo, tomar todas as precauções necessárias.

Muito dirão: mas o que estes dois casos têm em comum se ocorreram em locais tão distantes e em empresas de atividades tão distintas?

Creio que a resposta é simples. Em se confirmando estas causas, temos que em ambos os sinistros foram causados pela atividade de manutenção envolvendo solda e, pela inexistência de informações mais precisas, não temos como analisar as causas principais e as contribuintes para estes sinistros.

Porém, para nós aqui, entendo eu, não importa muito se a análise das causas está totalmente correta, mas sim o alerta de que algumas atividades afetas à manutenção não estando sendo realizadas no melhor estado da arte.

Sempre foi uma grande preocupação, especialmente nas indústrias de porte e nas grandes montagens o controle dos chamados trabalhos a quente.

Estas atividades que reduzem o tempo de montagem ou de manutenção, envolvem não apenas solda nos seus mais diversos tipos, mas também, outras atividades que geram fagulhas, tais como: esmerilhamento, lixamento, corte com disco rotativo etc., que são granes produtoras de faíscas e centelhas.

E, como todos sabem, havendo a conjunção de faíscas ou centelha com qualquer produto combustível e com oxigênio (triangulo do fogo), a chance de se ter um incêndio, independente da proporção, é muito grande.

E para que esta mistura perniciosa não ocorra se faz necessário a atuação em algumas frentes, de forma conjunta e concorrentes.

Uma delas é quanto ao local. Neste caso, o local de realização de atividades com chamas abertas deve estar isento de materiais combustíveis, para tanto, se faz necessária a limpeza do local, a retirada de todos os eventuais materiais combustíveis existentes, onde se inclui: materiais de classe de incêndio A (papel, papelão, madeira, plástico etc.), materiais de classe B (solvente, combustíveis líquidos etc.). No caso da impossibilidade de sua retirada, há a necessidade de seu isolamento com lonas, cortinas e materiais não propagantes, normalmente chamados de incombustíveis.

Outro fator é quanto a mão de obra, o que temos visto habitualmente nos locais que visitamos, são profissionais realizando atividades à quente sem pleno conhecimento da atividade e sem a realização de análise prévia para verificar as condições e proceder as correções necessárias para que a atividade se desenvolva de forma segura.

Quanto a formação dos profissionais que atuam com solda, além da formação profissional em si, vejo como interessante o uso do definido no curso constante na NR 34 que, apesar de ser direcionada a construção naval, traz um conteúdo mínimo pertinente e interessante as atividades envolvendo solda e, que pode ser estendida a todas as operações de trabalho à quente.

Algo que, em muitos locais é procedimento e que pode minimizar os risco é o uso da “Permissão Especial de Trabalho (PET)”, a nomenclatura varia de empresa para empresa mas o objetivo é o mesmo, e consiste em se obter uma autorização para que os trabalhos de maior risco sejam realizados. Para tanto, o objetivo é que, profissionais diferentes do realizador da atividade façam uma inspeção detalhada no local, definindo as ações mitigadoras de risco a serem realizadas.

Como digo, as vezes a ideia é boa, mas a realização nem tanto. No caso das “PET’s”, por vezes, vemos apenas o uso deste instrumento de forma cartorária, sendo que, os profissionais assinantes do documento nem visitam o local de realização da atividade, passando a preencher o documento de forma automática, certamente conduzindo a falhas de análise e consequentemente a medidas mitigadoras de risco, por vezes, insuficientes.

Concluindo, o que tentamos expor aqui é que, provavelmente incêndios como estes envolvendo trabalhos a quente poderiam ser evitados, desde que, fossem tomadas todas as medias mitigadoras de risco necessárias e, para isso, é necessário profissionais qualificados e uma boa análise do local de realização da tarefa e, como o ambiente e condições de trabalho mudam constantemente, o correto é que a análise seja elaborada no momento da realização da atividade.

Algo importante de citar é que, existem algumas atividades de solda e congêneres que são realizadas junto a combustíveis, como por exemplo, a soldagem de costados de tanques de armazenagem, mas estas são atividades não corriqueira quando analisado ao todo.