Nos dias atuais, as indicações do mercado me fazem questionar: será que estamos treinando as equipes de trabalho, ou apenas estamos comprando certificados?
Exemplificando minha inquietação, tenho dois casos clássicos.
Caso 1 – Um dia estava em minha sala de trabalho, o telefone tocou, atendi e o interlocutor me disse: quanto custa o certificado do curso da NR 10, já trabalho com eletricidade, sei tudo e só preciso do certificado.
Caso 2 – Falando com um amigo, ele me disse que estava precisando de dado treinamento, brinquei com ele dizendo que ele só cotava serviços e não comprava. Ele então respondeu, sei que teu curso é excelente, mas a diretoria só aprova o mais barato.
Será que estas ações contêm coerência?
Vamos analisar esta situação pelo lado da prestação de serviço.
Treinamento, seja ele ministrado por equipe interna ou externa, não deixa de ser uma prestação de serviço. Sendo assim, cabe lembrar o ensinamento do consultor José Augusto Minarelli, que diz: “todo prestador de serviço necessita prestar serviço que preste”.
Partindo deste princípio, podemos dizer que, “para o treinamento ser um treinamento que preste, há a necessidade do treinamento ministrado “agregar valor”.
Nesta altura, você deve estar perguntando: o que será agregar valor?
O conceito clássico de agregação de valor vem das áreas de produção e de marketing, sendo definida com “acrescentar alguma melhoria, de forma que, o produto final se torne melhor” e com isso ser comercializado de for-ma diferenciada.
Por analogia, podemos dizer que, agregar valor em treinamento é: transmitir uma série de informações, de forma que, seja agregado valor nas atividades e servi-ços prestados pelos treinandos.
Ou seja, um treinamento só pode ser considerado como fonte de agregação de Valor se, os participantes saiam de forma diferente do que chegaram, ou seja, que a partir do treinamento sejam mais produtivos ou desempenhem suas atividades de forma melhorada.
Neste instante, alguns dos leitores, estarão perguntando: e como se agrega valor? Acredito existir dois conceitos básicos:
Conceito 1 – Os quatro pilares.
A Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI da UNESCO, no capítulo quarto de seu relatório, define que a educação deve conter quatro pilares fundamentais, ou seja, aprender a: conhecer, fazer, conviver e ser.
Aprender a conhecer – é o buscar e adquirir informações e conhecimento.
Aprender a fazer – consiste em aprender a colocar em prática o conhecimento adquirido, pois de nada adianta ter o conhecimento se este não é posto em prática.
Aprender a conviver – especialmente hoje, se fala em times de trabalho, em equipes, em task force, se as pessoas não sabem conviver, terão dificuldade para trabalhar. Cabe lembrar que, a época do trabalho individual já se foi, ficou para traz.
Aprender a ser – o profissional precisa estar em constante evolução, não só técnica, mas também como ser humano e a educação precisa também propiciar esta melhoria, ou no mínimo, motivar as pessoas para tal.
Conceito 2 – As palavras de Confúcio.
O filósofo Chinês Kung-Fu-Tze (551 aC a 479 aC), co-nhecido universalmente como Confúcio, disse: “O que escuto, esqueço. O que vejo, lembro. E, o que faço, aprendo”.
Analisando sob a ótica de Confúcio, temos que, se em aula apenas o facilitador apenas fala (aula meramente expositiva), muito pouco conhecimento será retido e consequentemente, muito pouco poderá ser aplicado, ou seja, o valor agregado será baixo.
Qual deve ser o norte do treinamento profissional?
De forma simplista, o treinamento profissional deve atuar nos quatro pilares da educação, ou seja: trazer conhecimento, apresentando de forma a ser colocado em prática, propiciar o convívio em grupo e motivar as pessoas a melhorarem.
Além disso, a condução do treinamento, na medida do possível, deve estar calcada em exercícios, sejam casos reais ou simulações, realizados individualmente ou em grupo, até porque, como diz Confúcio, apenas o que faz se aprende, e é lógico, o que se foi aprendido fica fácil de colocar em prática.
Outro ponto fundamental é a motivação para a colocação em prática do aprendizado. De nada adianta a equipe aprender se não há como colocar em prática, seja pelas condições disponibilizadas pela empresa, seja pela conduta de seus superiores.
Quando utilizamos estes conceitos, veremos que o conteúdo deverá ser específico para cada empresa, retratando assim sua realidade e propiciando um ambiente passível de ações que agreguem valor.
Assim procedendo, agregamos valor tanto aos profissionais como às atividades por eles exercidas, tornando-os mais entusiasmados e produtivos.
Será que os treinamentos contratados atendem a estes requisitos?
Há cerca de dois meses estive participando de um congresso em Belém-PA, a plateia composta em sua maioria por técnicos e engenheiros de segurança, toda a vez que falava de quanto custa um treinamento considerado adequado, proferiam um ruído de desconforto e se afundavam na cadeira.
Conversando sobre o porquê do desconforto, disseram-me que compravam treinamento de menor preço, porém que atendia a norma.
Perguntei então: o que muda nas pessoas seja no seu comportamento ou na atividade profissional, após o treinamento? E a resposta foi nada.
Em isso ocorrendo, podemos dizer que o treinamento ministrado não agregou valor, ou seja, não teve nenhum benefício, assim sendo, qualquer valor pago, por menor que seja, torna-se muito caro, pois não apresentou benefício algum, ou seja, é o mesmo que você contratar um plano de saúde onde não se pode ir ao médico.
O que fazer para contratar um treinamento minimamente adequado?
Receita mágica não existe, mas existem alguns tópicos, que se verificados pode contribuir para melhor contratação, entre eles:
Analise o conteúdo – O conteúdo programático precisa atender a necessidade de sua empresa, sendo específico.
Exija individualização – treinamentos genéricos apresentam uma série de informações, sendo que, muitas delas, podem até ser inaplicáveis.
Analise o currículo do instrutor – existem casos em que engenheiros químicos estão falando de segurança em eletricidade, ou seja, há casos de pessoas não habilitadas treinando profissionais.
Analise a forma de condução – se na forma de condução não houver indicação exercícios (prática), desconfie, pode ser que esteja comprando apenas uma apresentação em forma de palestra e neste caso, a retenção das informações será baixa.
Veja quem assina o certificado – o certificado deve ser assinado pelo instrutor, em muitos casos isto não ocorre, pois o instrutor não é habilitado legalmente para assiná-lo.
Nos treinamentos na área de engenharia exija a ART (anotação de responsabilidade técnica).
Concluindo:
Todo treinamento deve agregar valor, deve fazer com que o profissional que participou, saia do treinamento como um melhor profissional e que esteja motivado a colocar o conhecimento adquirido em prática.
Se tivermos uma verba para treinamento, é mais proveitoso, propiciar menor quantidade de treinamento, mas que este tenha maior qualidade, do que maior quantidade com menor qualidade.
Contratar treinamentos genéricos e de baixa qualidade é a mesma coisa que comprar certificado. O certificado em si, nada agrega, o que agrega valor é o conhecimento adquirido e a motivação para colocá-lo em prática.
Publicado na revista proteção em junho de 2009